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Ouça Esse CD: Outra Trilha (por Esdras R. Andrade).

“Eu sinto um verso novo chegando no ar...”. Assim versa o refrão da primeira faixa do novo disco de Maciel Melo, Outra Trilha, lançado apenas em mídias digitais no final de agosto deste ano, trazendo vedadeira síntese da proposta do trabalho.


Maciel é relativamente conhecido no Nordeste do Brasil como um legítimo “forrozeiro” solo, tendo seu maior sucesso na canção “Caboclo Sonhador”.


O que me chamou a atenção no novo álbum do cantor nascido em Iguaraci, sertão pernambucano, foram as palavras do próprio cantor ao dizer, em entrevista ao Jornal do Commercio, que o disco foi concebido em um momento em que Maciel Melo estava ouvindo bastante Bob Dylan (!).


Particularmente, gosto muito de ouvir e pesquisar sobre música nordestina (sobre esse tema, não deixem de conferir meu novo podcast, o SOM NE, que trata exatamente da música regional do Nordeste), mas reconheço que um dos maiores defeitos históricos dos gêneros do interior do Nordeste é a quase completa falta de pontos de intersecção com gêneros de outros lugares e tempos (é claro que excluo do conceito da frase anterior a mania que as bandas de forró estilizado tem de fazerem covers de procedência duvidosa de bandas internacionais).


O resultado deste certo “purismo” dos forrozeiros tem sido o engessamento da expressão musical do Sertão, renegada em nossos dias a mero fenômeno folclórico, mas sem muito impacto real sobre a produção musical moderna.


É exatamente neste ponto que o Outra Trilha, na visão deste articulista, se mostra como um trabalho digno de atenção e seriedade. Em todo o álbum se nota a intenção de Maciel Melo em promover o diálogo entre ritmos nordestinos e expressões outras como o folk e o country.


A faixa inicial, Malabares, talvez seja a que melhor expressa esta aventura musical, com especial destaque para o lap steel e a gaita ali presentes, além do xote particularmente envolvente do coro.


Negro Amor (versão de Caetano Veloso de It's All Over Now, Baby Blue, de Bob Dylan), por sua vez, alia as percussões e sanfonas do forró com a profundidade das baladas românticas, com especial destaque para as intervenções da guitarra.


As coisas ficam mais intimistas em Canarinho Verde e A Pedra e o Limo, sem qualquer perda de qualidade.


Eu Quero o Meu País, por sua vez, traz a influência do choro carioca a uma interessante canção que discorre sobre as aspirações pessoais em um país conturbado como o Brasil.


Por fim, cabe destaque para No Infinito Azul, com a participação de Renato Teixeira, com nova aparição da guitarra a la Dylan.


Outra Trilha tem sido, para mim, uma das gratas surpresas sonoras de 2017. Um álbum original e motivado pelo nobre desejo de enriquecimento da obra de um intérprete já conhecido no gênero da música nordestina.


Seria muito bom se as discografias dos artistas musicais do mainstream fossem mais orientadas por metas artísticas, e não meramente comerciais, como hoje se vê. Mas ainda há esperança. Ouça o que presta. Que a arte, a música verdadeira e honesta, nunca deixa de estar em nossos ouvidos.


E no mais, acesse Aeroplane! Abraços!


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