Ouça Esse CD: Acústico - DJ Alpiste (por Abner Andrade)
No terceiro podcast do Aeroplane [Indicações de Covers e Regravações], onde nós recomendamos uma música que gostamos e uma regravação/cover posterior dessa mesma música, nós discutimos bastante sobre música eletrônica no momento em que Kildery recomendou o cover que a dupla Honne fez da música Didn't I do cantor Darondo. Em um certo momento eu disse que, apesar de ouvir alguns artistas de música eletrônica (e de ter gostado muito da indicação dada por Rafael), eu não chegaria a comparar a música eletrônica à música cem por cento trabalhada instrumentalmente.
É verdade que ainda penso assim, sendo o CD que recomendo neste artigo é um exemplo disso. Confesso que não sou fã do rap, apesar de ter passado por uma fase “Racionais Mc's” (sim, é isso mesmo que você leu) no ensino médio, mas que foi em extremo efêmera. Conheci o DJ Alpiste através de um amigo que me mostrou o seu álbum Acústico, gravado em 2004. Obviamente um trabalho acústico de um artista se refere a trabalhos anteriores já consolidados, o que torna interessante o fato de tê-lo conhecido através justamente do seu álbum acústico, mas creio que isso tenha sido providencial pra que eu continuasse ouvindo esse artista até hoje.
![Acústico (DJ Alpiste) - Aeroplane](https://static.wixstatic.com/media/324c27_e97c83a60c1a4c59a66a96e4b636c27e.jpg/v1/fill/w_300,h_232,al_c,q_80,enc_avif,quality_auto/324c27_e97c83a60c1a4c59a66a96e4b636c27e.jpg)
DJ Alpiste foi um dos pioneiros do rap gospel no Brasil após a sua conversão na década de 90. Suas músicas abordam temas comuns no estilo, como a injustiça social, a exaltação das periferias de São Paulo, além das letras com temática gospel propriamente dita. No que diz respeito à instrumentação, ele se mantém fiel ao gênero, se utilizando das batidas e linhas melódicas produzidas eletronicamente, apesar de costumeiramente ser possível notar uma guitarra aqui ou ali. Como era de se esperar, esses são justamente os elementos da sua música que não me atraem muito.
O lançamento do seu CD/DVD acústico (o que não creio ser muito comum no rap) permitiu que DJ Alpiste explorasse mais a musicalidade da sua música. Uma banda completa foi usada, sendo cada um dos músicos dignos de altíssimos elogios. As pegadas são firmes, com uma cozinha muito coesa e competente com Kleberson na bateria e Ted no contrabaixo, sendo as linhas harmônicas e melódicas performadas com maestria por Guto no violão e Dudu Borges no teclado/piano/rhodes. Destaque também para o backing vocal que faz o contraponto harmônico ao rap “cantado” pelo DJ Alpiste. Aliás, acredito que a fórmula básica seja mais ou menos essa: estrofes dissonantes e não muito “musicais” performadas pelo rapper e refrões mais consoantes, com linhas melódicas definidas.
Quanto às faixas, a diversidade é grande. O álbum vai de faixas muito boas, como Ser ou Não Ser, Guerreiro do Senhor e Cidade Nua, para outras muito fracas, como Depois do Casamento (sério?) e Louvado Seja. As letras chegam a ser de cunho muito “social” por diversas vezes, o que também não me agrada muito. Outra coisa a ser ressaltada neste álbum é justamente o afastamento da imagem em direção à música que ocorre aqui. Rappers são famosos por ostentar carros, cordões de ouro e inclusive armas em público, entregando de bandeija do que se trata de fato a sua música. O álbum acústico do DJ Alpiste quebra isso, sendo isso perceptível inclusive na imagem apresentada pela banda. Os músicos tocam sentados, as roupas não são lá tão “apapagaiadas”, o foco é de fato a música de qualidade apresentada ali.
Diante de tudo que foi dito acima, posso concluir o seguinte: o meu gosto musical no que diz respeito ao rap muito provavelmente será limitado a somente este álbum, apesar de ser um de meus favoritos. Este álbum também prova que o rap tem o potencial de agradar até os críticos mais exigentes, basta que haja a disposição de melhor explorá-lo musicalmente.
Confira:
Ser ou Não Ser
Cidade Nua
Show Completo