Ouça Esse CD: Book of Shadows (por Esdras Andrade)
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Caros e parcos leitores, perdoem-nos pelo tempo sem matérias aqui no Aeroplane. De minha parte, precisei passar por uns tempos aí de “renovação musical”. Ouvi CD’s antigos, reouvi coisas de tempos distantes, pesquisei coisas novas e, agora, me encontro mais empolgado musicalmente do que nunca.
Semanas atrás, debruçado sobre uma dessas revistas de música antigas que compro pelos sebos aqui em Garanhuns, me pus a ler sobre um tal Zakk Wylde. Já havia lido sobre o cara antes e sabia que o dito cujo é um dos ícones da guitarra roqueira mundial.
O título da matéria me fez ter uma certa rejeição pré-concebida pelo guitarrista: “Brutalidade Pura”. Só de ler já percebi que o camarada transitava pelas áreas mais pauleiras da música, o que, sinceramente, não me atrai muito, apesar de, nos últimos meses, ter evoluído consideravelmente nos meus conhecimentos acerca do rock progressivo, heavy metal, nu metal e afins.
Mas para não ser injusto a ponto de rejeitar um músico sem ao menos ler sobre o mesmo, não me neguei a ler a matéria. A biografia musical de Wylde comprova o meu primeiro palpite. O músico americano ganhou notoriedade por tocar muito tempo com Ozzy Osbourne, além de ter tocado também com Derek Sherinian e, desde 1999, se dedica também a uma banda própria, o Black Label Society, além de possuir três discos solo.
A análise feita pelo articulista da revista acima mencionada acerca do primeiro disco solo de Zakk, o Book Of Shadows, de 1996, me chamou a atenção. Segundo o mesmo, tratava-se de um disco marcado pela presença de baladas, nas quais Wylde tocava, primordialmente, violão e piano. Algo incomum para um músico conhecido mundialmente por ser um roqueiro ortodoxo.
Ao ouvir o disco, pude comprovar, como dito pelo articulista, que se tratava de um dos mais belos álbuns já produzidos por um ser humano. Atentem: um dos mais belos álbuns! O trabalho inteiro é marcado pelo preciosismo composicional e pela ótima qualidade da gravação, mesmo que não haja uma grande canção para marcar uma geração.
O álbum, formado por dois discos, possui 14 faixas, totalizando mais de uma hora de boa música. Wylde revela ser um ótimo violonista e grande arranjador. Ao longo do álbum, encontramos uma série de baladas, músicas românticas e, até mesmo, algumas faixas mais intimistas, sem, contudo, apresentar nenhum traço de chatice ou excesso de obviedades.
Algumas faixas merecem destaque. Road Back Home, iniciada por um órgão e um piano eficientes, acompanhados de um pequeno solo do contrabaixo bastante harmônico, é uma das boas canções do álbum. No coro da canção, Wylde acrescenta um certo peso com a guitarra que caiu bem.
Throwin’ It All Away é a grande balada romântica do disco. Uma grande canção. Por toda sua extensão, o que se percebe é uma música de arranjo simples porém adornada com excelentes riffs de guitarra. Destaque, também, para os violinos no coro.
O melhor do álbum, em minha humilde opinião, fica por conta de Way Beyond Empty, uma faixa mais suave no contexto do trabalho, com um arranjo, mais uma vez, simples, mas incomumente embelezado pelas participações individuais de cada instrumento. Destaque supremo para o back vocal de John Sambataro no coro, verdadeira obra de arte.
Em Dead As Yesterday, Wylde embala uma canção bastante influenciada pela música country. Já em Too Numb To Cry, o destaque é para o ótimo piano. Por fim, Peddlers Death dá o tom intimista do álbum, fechando os trabalhos, sem deixar nada a dever às faixas que a precederam.
Trata-se, em resumo de um ótimo trabalho que cumpriu com a função primordial de qualquer músico que se preze: surpreender.