top of page

Ouça Esse CD: Quartz (por Kildery Rafael)


Quartz - Aeroplane

Há certas bandas que se consubstanciam num único indivíduo, então não importa necessariamente seu número de integrantes ou qualidade dos músicos. Percebo que o inverso também seja uma afirmativa acertada. A música brasileira está cheia de exemplos que podem ser citados: RPM, Engenheiros do Hawaii, Ultraje a Rigor, Barão Vermelho e Capital Inicial. São/foram apenas os respectivos vocalistas mais alguns caras d̶e̶s̶c̶o̶n̶h̶e̶c̶i̶d̶o̶s̶ e que entraram numa rotatividade deveras danosa para a proposta inicial da(s) banda(s), isso apenas para citar bandas de rock (termo usado de forma genérica, atente!) que fizeram um sucesso substancial na segunda metade dos anos oitenta e anos noventa. Todos os vocalistas das bandas mencionadas padecem de um “mal”: o projeto paralelo em que se empenhe o “líder” certamente ficará difícil de ser separado da obra que os levaram ao sucesso. Alexandre Carlo aqui se enquadra.


Natiruts é certamente a banda de reggae mais bem sucedida no cenário nacional. Grande parte do seu sucesso se dá pela característica louvável de tentar fugir do “reggae roots” por reconhecer sua limitação, adicionando instrumentos e melodias que fogem das características clássicas do reggae. Grande parte desse sucesso também é mérito do principal compositor e arranjador, Alexandre Carlo, que com peculiar sensibilidade cria composições que transmitem sensações que só quem gosta do bom reggae consegue sentir. Contudo, a tentativa de se aventurar por caminhos diferentes do gênero jamaicano demonstra uma limitação do músico que não é e não pode ser visto como mal, apenas não bom o suficiente para atingir a expectativa de não ver o Natiruts tocando, isso é o que me veio ao ouvir o primeiro trabalho solo do Alexandre Carlo, de 2013.


Quartz em dez músicas traz elementos de samba – com uma pitadinha de samba-rock -, pop, mpb, servindo de base para letras agradáveis e positivas, mas de quebras de rimas forçadas ou desarmoniosas, como achei na segunda estrofe da faixa “Last night” e em “Venha me encontrar”, coisa que já percebi em músicas do Natiruts.


É perceptível a inserção com destaque das batidas de violão, o que é apreciável em certos momentos como nas músicas “Agora sou feliz” e “Comment allez vous”. Isso deve ser pontuado porque acaba por trazer um diferencial que, apesar de antigo, nunca perde a classe. As linhas de baixo têm bastante destaque, não sei se por intenção ou equalização do meu executor de áudio – o mais provável -, e acaba tornando completa a experiência de atentar para todo o trabalho envolvido na produção do disco, sobretudo nos instrumentos de corda.


As faixas que merecem destaque são “Comment allez vous”; “Cabelo cachoeira”; e “Te beijar”, esta com a participação da grande Ellen Oléria, uma das melhores coisas que aconteceram na mpb nos últimos tempos.


É um trabalho digno, mas que aparenta ser um disco ruim do Natiruts. Ruim por não ter reggae, vale frisar. Longe de querer ter sido muito exigente, o que pode passar a impressão de que ouvi o disco procurando algo para criticar, penso que, se a justificativa para que se fizesse um trabalho à parte da discografia do Natiruts encontra sustentação numa possível incompatibilidade das letras e melodias com o reggae, gênero tão aprazível quando tocado pelo Natiruts, houve um erro.

Categorias
Artigos Principais
Check back soon
Once posts are published, you’ll see them here.
Artigos Recentes
Arquivo
Siga-nos
  • Facebook Basic Square
bottom of page