Lendas da Música: Azul da Cor do Mar - Tim Maia (por Esdras Andrade)
Insaciáveis leitores, os mais assíduos de vocês já sabem da minha admiração pela obra de Tim Maia. Acho que é até desnecessário repetir a sua importância para a história da música brasileira, já que foi ele quem “abriu as porteiras” para a entrada da música “negra” americana em terras tupiniquins.
Mas uma das coisas que mais me atrai na obra musical do “síndico” é o fato de que tudo (ou quase tudo) em sua carreira foi feito de modo absolutamente passional! Eu, sinceramente, não tenho notícia de alguma música cantada por Tim Maia que não tenha algo a ver com sua vida pessoal, ainda que não tenha sido composta por ele.
O maior exemplo do modo tão autêntico como “Tião” encarava sua música em relação À sua própria vida, é a canção “Azul da Cor do Mar”, uma das mais belas de Tim Maia e, não curiosamente, umas das mais simples, tecnicamente falando.
“Azul da Cor do Mar” foi composta por Tim Maia em 1969, quando ele ainda era anônimo. À época, Maia estava completamente duro, recém saído da cadeia e morando de favor com um cantor amigo seu, chamado Fabiano, em um apartamento no Rio de Janeiro. No apartamento vivia também o produtor de Fábio, chamado Glauco Timóteo.
Os tempos de hospedagem de Tim Maia no Bairro de Botafogo com seus amigos foi marcado por uma verdadeira tortura sentimental. Enquanto Fábio e Glauco, após os shows na noite carioca, frequentemente levavam mulheres para o apartamento, Tim Maia era sempre rejeitado pelas mulheres, amargando o fato de ser um pobre em bairro nobre carioca, além dos efeitos visuais do excesso de peso.
Assim, Tim Maia, que morava no sofá do apartamento, tinha que amargar a solidão enquanto ouvia risos e outros sons vindos dos quartos de Fábio e Glauco. Em um fim de semana, os donos da casa viajaram e Tim Maia ficou só. Aproveitou a oportunidade para dormir na cama do quarto. Chegando lá, avistou um quadro de uma morena seminua, com o mar do Taiti ao fundo. Vislumbrado pela visão, e afetado pela solidão, ele se pôs a compor. O resultado foi a belíssima e profundamente sincera “Azul da Cor do Mar”.
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Ao chegar de viagem, Tim Maia apresentou a Fabio a gravação preliminar da canção. Ao terminar de ouvir, Fabio só pôde dizer: “você acaba de fazer a música da sua vida”.
Fabio deve ter entendido a parte que diz que “um nasce pra sofrer, enquanto o outro ri”.