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Ouça Esse CD: Rythm Of The Pride Lands (por Esdras Andrade)


Rythm Of The Pride Lands - Aeroplane

Música a Futebol realmente parecem ter uma forte ligação. No ano de 2010, quando a África do Sul sediou a 19ª Edição da Copa do Mundo da FIFA, vencida pelo até então magistral time da Espanha, houve por todo o mundo uma maciça difusão da cultura africana de um modo geral. Como não poderia ser diferente, muito se falou da música do continente africano também. Nesse contexto é que me lembro de ter feito minhas primeiras pesquisas sobre os gêneros musicais africanos tradicionais.


Pra falar a verdade o primeiro contato com os timbres da África se deu muitos anos antes, quando, ainda criança, me viciei em assistir O Rei Leão (vício ainda não superado), filme de animação americano produzido pela Disney sobre a vida na Savana Africana. O longa animado teve como um de seus principais destaques a excelente trilha sonora, inspirada nas músicas tradicionais africanas, tendo inclusive vencido o Oscar de Melhor Trilha Sonora no ano de 1995. Falarei sobre esse trabalho outro dia, mas desde já digo que o considero a maior epifania musical da história.


Mas a verdade é que nesse processo de “conhecimento” da música africana tradicional, que se tornou um hábito desde 2010, eu conheci um músico chamado Lebo Mathosa, mais conhecido como Lebo M. Pra quem já assistiu O Rei Leão, ele é o cara que dá um grito logo no começo do filme, introduzindo a música Circle Of Life. Trata-se de um cantor e produtor musical sul-africano que participou de várias trilhas sonoras de Hollywood, em especial em participação com o diretor musical e compositor Hans Zimmer, que foi quem o convidou para participar da produção musical do filme da Disney acima citado.


Lebo M. gravou o disco Rhythm Of The Pride Lands em 1995, um ano após o lançamento de O Rei Leão, pegando o embalo do sucesso das bilheterias. Aliás, ele claramente se apoia no filme para angariar seu sucesso, já que estampa a foto de Simba, personagem principal do filme, na sua capa e tem como título: “Ritmo das Terras do Reino”, que é o lugar da habitação dos leões do filme americano. O disco reúne versões de algumas das melodias que embalaram o filme e algumas faixas inéditas.


Lebo M. canta algumas das músicas em inglês e outras em zulu, idiomas oficiais da África do Sul. O diferencial do trabalho, entretanto, está na fusão dos elementos da música tradicional africana, como os coros, xilofones e percussões, e dos elementos típicos da música pop. Tudo isso originou um trabalho de alta qualidade musical e um ótimo começo pra quem quer conhecer melhor este lado da música tão pouco explorado no ocidente.


Devo destacar a primeira faixa do disco, “He Lives In You”, que foi a que ficou mais conhecida de todas, tendo sido escolhida como música de abertura de O Rei Leão 2 (1998). Ela alia eficientemente a bateria e o baixo ao coral e ao xilofone (instrumento percussivo consistente em uma série de lâminas dispostas cromaticamente que, quando atacadas, produzem um som de curta duração, muito comum em músicas infantis), produzindo uma música pulsante, ritmada e com uma bonita melodia.


“It’s Time”, por sua vez, tem como característica principal a percussão totalmente eletrônica, acompanhada de flautas que se revezam ao longo da música, algo muito característico da música africana, com o apoio dos corais. Bela Música.


“Busa” traz um outro elemento importante da música africana: a guitarra. Aliás, é difícil encontrar um instrumento que tenha conseguido tamanho nível de inserção em todos os gêneros musicais como ela. Na música africana a guitarra geralmente atua com pouca ou nenhuma distorção, evitando os acordes “cheios”, isto é, que exijam a aplicação de muitas notas em muitas cordas, assemelhando-se à atuação deste instrumento na música caribenha, que influenciou a música da costa Oeste da África. Geralmente ela aparece em rápidos solos entre um verso e outro ou com acordes simples envolvendo 2 ou 3 cordas do instrumento. Ainda assim, a guitarra é decisiva em boa parte das músicas tradicionalmente africanas, como o é nesta música, especialmente na sua introdução.


“One By One” nos leva às mais remotas origens da musicalidade africana. Ela não tem instrumentos. São só vozes e algumas palmas aqui e ali. Tudo para transportar o ouvinte ao mais genuíno clima da África. O coral canta uma melodia bem construída, com alguns cantores solando algo em alguns momentos. Simplesmente bonito. O disco traz, ainda, a música “Lala” uma ótima canção finalizada com um belo solo de flauta. Tem, ainda, duas versões de músicas consagradas: “The Lion Sleeps Tonight”, o hit africano mais famoso de todos os tempos, de Solomon Linda, e “Hakuna Matata”, sucesso do filme O Rei Leão, neste CD executada por Lebo M. e pelo jamaicano Jimmy Cliff.


Para mim, a música mais bonita do disco é “Lea Halalela”. Ela começa com uma percussão simples, seguida do coral que canta uma melodia igualmente simples. Depois disso somos introduzidos a uma voz feminina magistral, acompanhada de uma tímida guitarra e de um xilofone que executam a mesma melodia. A cantora mencionada é Khululiwe Sithole, que faz uma participação especial nesta faixa. Sua voz é indescritivelmente bela. Só ouvindo para ter noção do quanto. Daí em diante, vemos uma bateria e um baixo cirúrgicos durante toda a música, que se mantém em um ótimo nível até o seu final.


Rhythm Of The Pride Lands é, enfim, um CD que descortina algumas coisas. Ele mostra como é possível aliar dois mundos musicais teoricamente distantes e produzir algo de alta qualidade. Particularmente, fico bastante inquieto em perceber como existem artistas absolutamente desconhecidos do grande público que fazem trabalhos tão bons! Há muito a descobrir por esta tão vasta internet! Não sabemos nada de música, caros leitores. Sempre haverá os ilustres anônimos da grande mídia mandando ver para os poucos pesquisadores de internet sedentos por música.


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He Lives In You

Lea Halalela

One By One


Busa

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