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Ouça Esse CD: Biu Grease & The Jiquiá Brass Band (por Esdras Andrade)


Um recifense do Jiquiá tocando música do Mississipi com um cavaquinho e alguns talheres. Não, caro leitor, eu não estou bêbado. Nem faço uso da cannabris sativa. Estou falando do músico pernambucano Ângelo Souza, conhecido como “Graxa”, e seu mais novo trabalho, “Biu Grease & The Jiquiá Brass Band”, lançado em outubro de 2014.


Graxa aposta em um trabalho arrojado, corajoso e, sobretudo, altamente não convencional. Todo o disco foi gravado na casa do músico, no bairro Jiquiá, no Recife (morei lá, inclusive). São 11 faixas que perfazem apenas 12 minutos de música em todo o disco! Nele, o compositor recifense expõe a seu público um som inusitado, reproduzindo o som típico do interior dos EUA, ali pelo Mississipi, etc, com algumas pitadas de soul. Para isso se utiliza de um cavaquinho (!) e elementos percussivos com objetos caseiros, como colheres, tampas de recipientes e outras coisas que podem ser achadas em qualquer cozinha comum.


A mistura de influências e sons produziu um resultado bastante positivo nas faixas Move Me (que conta apenas com a percussão made in cozinha e as vozes), 5 a.m., Potato Song e I Knelt By The End Of Love. Esta última, aliás, termina seus trabalhos com um solinho de cavaquinho bastante eficiente.


As coisas, entretanto, não caíram tão harmonicamente na faixa Watch My Mout Smile (Goodbye Songs), na qual tive a impressão de que o excesso de elementos percussivos acabou por suprimir, de certa forma, o interessante arranjo melódico da canção.


Outro fator que poderia ser melhorado no disco é a edição das vozes principais: se eu não estiver enganado, todas as faixas vêm com a voz principal duplicada (como se duas pessoas cantassem ao mesmo tempo). No meu humilde modo de ver, isso prejudicou um pouco a nitidez das músicas, especialmente no que se refere às suas letras. A interpretação dada por Graxa às músicas, entretanto, é de se elogiar: ele as canta passando um clima de total descontração e até de certo humor, como que em uma grande brincadeira musical, que é o que de fato este disco é, no melhor sentido da palavra!


A melhor faixa do disco, para mim, é a última, Her Majesty, cover dos Beatles: melodia bem construída, arranjo bem trabalhado e uma percussão bastante improvável: apenas uma colher que parece bater em algo de vidro. Tudo isso se encaixou muito bem nesta inteligente canção.


Para arrematar, acredito que Biu Grease & The Jiquiá Brass Band é um trabalho, sobretudo, corajoso. Definitivamente, ele corre na contramão de tudo aquilo que se conhece como “musicalmente comercializável” nesses nossos tempos. Mas é também um disco muito interessante de ser ouvido, por revelar profundo conhecimento de um pernambucano sobre um gênero musical completamente alheio à nossa cultura de massa e, principalmente, uma extensa noção de timbres alternativos possíveis e acessíveis, não só no que se refere aos instrumentos melódicos, como também aos percussivos.

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